Especialistas analisam motivos que levaram candidatos a “mudar de cor”

Para especialistas, há três hipóteses para as mudanças de classificação de raça/cor entre os candidatos: aumento de identificação/consciência, erro de preenchimento e fraude.

O ministro Ricardo Lewandowski determinou que valerá já nas eleições deste ano a divisão proporcional de recursos e propaganda eleitoral entre candidatos negros e brancos, o que pode ter impactado nas mudanças.

O professor-assistente do departamento de ciência política da Universidade da Flórida Andrew Janusz acredita que “os brasileiros estão ficando mais conscientes de sua cor”. “Embora os políticos e a população tenham passado a se declarar negros, acho que geralmente eles têm motivos diferentes. Muitas vezes políticos brancos passam a se declarar negros quando é eleitoralmente útil.”

Mas ele diz que, na população, isso também se deve a uma maior instrução e a um maior acesso das pessoas. “Quando os indivíduos recebem educação, eles podem se fortalecer e abraçar identidades negras.”

Para o professor de ciência política da UFMG Cristiano Rodrigues, a tendência é que mais pessoas negras se candidatem, de fato, neste ano. “Houve nos últimos anos vários movimentos que levaram ao aumento das candidaturas negras”, afirma. “Um deles é o efeito Marielle. Ela se tornou um símbolo e tem motivado várias pessoas negras a entrar na política.”

Neste ano, especialmente, também temos visto a questão racial ganhar espaço na mídia e no debate público tanto no Brasil quanto fora. E há uma reação ao governo federal, que tem adotado posturas que podem ser consideradas racistas ou que levam os negros a não se sentirem representados.”

O levantamento do G1 mostra ainda que 8.365 candidatos que se declaravam pardos agora dizem ser brancos. Outros 3.319 que se diziam pardos agora se declaram pretos. E 2.559 fizeram oposto: antes constavam como pretos e agora são pardos.

Há também 294 candidatos que se declaravam pretos e agora aparecem como brancos. Outros 510 que diziam ser brancos agora preencheram o dado como sendo pretos.

Rodrigues afirma que parte pode ser explicada pelas características do próprio sistema de classificação. “O próprio sistema de classificação é fluido. Não estou dizendo que não deve ser assim. Deve. Só que isso abre precedentes para que algumas pessoas façam uso errado.”

“De preto para pardo e vice-versa não altera a classificação de negro. O que interessa para distribuição de recursos é de branco para pardo ou preto”, diz.

“As mudanças de preto para pardo e de branco para pardo dizem respeito à fluidez da classificação racial. Já a passagem do preto para branco é mais complicada. Imagino que seja um problema no preenchimento. E de branco para preto é um indicativo de fraude”, afirma Rodrigues.

Informações: g1.com

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